Atendimentos a crianças com ansiedade no SUS aumentam quase 2.500% em 10 anos

O aumento significativo de atendimentos a crianças com transtornos de ansiedade no Sistema Único de Saúde (SUS) nos últimos anos é um reflexo de mudanças sociais, culturais e tecnológicas que impactam diretamente a saúde mental das novas gerações. Entre 2014 e 2023, houve um crescimento impressionante de quase 2.500% nas consultas a crianças de 10 a 14 anos, passando de 1.850 atendimentos para 24,3 mil. Para adolescentes de 15 a 19 anos, o cenário é ainda mais alarmante: a alta foi superior a 3.300%, com 53.514 atendimentos registrados no último ano. Este fenômeno exige uma reflexão aprofundada sobre as causas subjacentes e as maneiras como a sociedade pode intervir positivamente para mitigar esse problema crescente.

Atendimentos a crianças com ansiedade no SUS aumentam quase 2.500% em 10 anos

O aumento no índice de atendimentos relacionados à ansiedade em crianças e adolescentes está intimamente ligado a várias condições da vida moderna. Entre elas, o uso excessivo de dispositivos eletrônicos desperta a atenção de especialistas que analisam esse quadro com preocupação. O pediatra e sanitarista Daniel Becker aponta que o tempo excessivo frente às telas compromete atividades fundamentais para o desenvolvimento dos jovens, como brincadeiras ao ar livre, esportes e interações sociais. Com a pandemia de COVID-19, a situação se intensificou, uma vez que o isolamento social levou muitos a depender ainda mais da tecnologia para se conectar com o mundo.

O impacto da tecnologia na saúde mental

As telas se tornaram parte integrante do cotidiano das crianças e adolescentes. A presença constante de smartphones, tablets e computadores não apenas substitui a interação humana, mas também oferece uma porta de entrada para conteúdos indesejados e prejudiciais. Bullying virtual, mensagens de ódio, e a exposição a imagens sexualizadas e agressivas são algumas das armadilhas que podem afetar a saúde emocional dos jovens. O efeito disso é uma crescente sensação de ansiedade e insegurança, que muitas vezes não é reconhecida e tratada a tempo.

Além disso, as redes sociais exacerbam problemas como a pressão estética, especialmente entre as meninas. Clóvis Francisco Constantino, presidente da Sociedade Brasileira de Pediatria, destaca que padrões de beleza irreais, frequentemente promovidos por filtros digitais e cirurgias estéticas, criam um ambiente onde a comparação e a insatisfação com a própria imagem se tornam comuns. Isso pode levar a distúrbios de autoestima e, por consequência, a um aumento significativo na demanda por atendimento psicológico.

A qualidade do sono em tempos digitais

Outro aspecto importante a ser considerado é a relação entre o uso de tecnologia e a qualidade do sono das crianças. Estudos indicam que a exposição a telas, principalmente antes de dormir, pode afetar a produção de melatonina, o hormônio responsável pelo sono. O pediatra Constantino alerta que a falta de sono de qualidade está diretamente ligada ao bem-estar emocional. Cansadas e sem energia, as crianças e adolescentes ficam mais propensos ao estresse e à ansiedade.

Medidas preventivas e intervenções

Diante desse aumento alarmante nos atendimentos, é fundamental implementar medidas de prevenção e intervenções eficazes. Uma abordagem holística deve ser adotada, envolvendo não apenas a área da saúde, mas também a educação e a família. A promoção de atividades ao ar livre, o incentivo a hobbies que não envolvam telas e o fomento a um ambiente familiar saudável podem ser passos cruciais para combater os efeitos adversos da tecnologia.

Os pais desempenham um papel vital nesse processo. A supervisão do tempo de tela e a participação ativa em atividades que promovam a saúde mental da criança são essenciais. Criar um equilíbrio entre o uso de dispositivos digitais e outras atividades lúdicas pode ser uma estratégia eficaz para minimizar os efeitos negativos.

Formato de atendimento nas escolas

Escolas também podem contribuir ativamente para a melhoria do quadro. A implementação de programas de conscientização e suporte psicológico nas instituições de ensino pode ajudar a identificar problemas de saúde mental e oferecer apoio adequado. A inclusão de palestras, workshops e treinamentos voltados para a saúde emocional nas aulas pode preparar o corpo docente para lidar com situações de crise, além de criar um ambiente mais acolhedor para os alunos.

A necessidade de uma abordagem multidisciplinar

Em suma, a crescente demanda por atendimentos a crianças com transtornos de ansiedade no SUS deve ser abordada de forma ampla e integrada, levando em consideração as múltiplas facetas que impactam o bem-estar emocional dos jovens. Desde o uso consciente da tecnologia até a promoção de ambientes familiares saudáveis, mudanças significativas podem ser feitas através de ações coletivas.

Perguntas frequentes

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Por que houve um aumento tão alto no atendimento a crianças com ansiedade?

Esse aumento pode ser atribuído a fatores como o uso excessivo de dispositivos eletrônicos, pressão social e estética, bem como a pandemia de COVID-19, que intensificou a dependência de tecnologia e o isolamento social.

Quais são os principais fatores que contribuem para a ansiedade em crianças e adolescentes?

Os principais fatores incluem a pressão social, bullying, exposição a conteúdos prejudiciais nas redes sociais, e a falta de interações sociais saudáveis.

Como os pais podem ajudar a prevenir a ansiedade em seus filhos?

Pais podem ajudar a prevenir a ansiedade limitando o tempo de tela, incentivando atividades físicas, promovendo interações sociais saudáveis e mantendo uma comunicação aberta sobre sentimentos e preocupações.

É possível que a ansiedade em crianças e adolescentes tenha impactos a longo prazo?

Sim, se não tratada, a ansiedade pode levar a problemas de saúde mental mais sérios na vida adulta, como depressão e transtornos de ansiedade crônicos.

Qual é o papel das escolas no tratamento da ansiedade entre os jovens?

As escolas podem implementar programas de conscientização sobre saúde mental, oferecer suporte psicológico e criar um ambiente seguro para discussões sobre emoções e problemas pessoais.

O que podem fazer os profissionais de saúde para ajudar neste cenário?

Os profissionais de saúde devem ser capacitados para identificar e tratar transtornos de ansiedade precocemente, além de trabalhar em conjunto com famílias e escolas para desenvolver estratégias de intervenção eficazes.

Considerações finais

O aumento dos atendimentos a crianças com ansiedade no SUS é um reflexo de um problema complexo que merece atenção urgente da sociedade como um todo. À medida que nos fortalecemos como comunidade, é nosso dever assegurar que as próximas gerações possam desfrutar de uma infância e adolescência mais saudáveis e equilibradas. Investir na saúde mental não deve ser uma responsabilidade exclusiva dos serviços de saúde, mas uma missão compartilhada entre famílias, escolas e a sociedade. A hora de agir é agora.