Atendimentos por ansiedade sobem 3.300% no SUS; especialistas apontam razões

O aumento significativo das notificações de atendimentos relacionados a transtornos de ansiedade no Sistema Único de Saúde (SUS) entre jovens e crianças vem chamando a atenção de especialistas, pais e da sociedade em geral. Nos últimos anos, os números são alarmantes: um crescimento impressionante de 3.300% em atendimentos de adolescentes de 15 a 19 anos e de 2.500% entre crianças de 10 a 14 anos, segundo dados do Ministério da Saúde. Esses dados não apenas refletem um sofrimento crescente na população jovem, mas também levantam questões sobre as causas desse fenômeno e como a sociedade pode responder adequadamente.

Atendimentos por ansiedade sobem 3.300% no SUS; especialistas apontam causas

Historicamente, os transtornos de ansiedade sempre existiram, mas a magnitude do aumento nos últimos anos é inegável. Em 2014, foram registrados 1.534 atendimentos para jovens com transtornos de ansiedade, um número que saltou para 53.514 em 2023. No caso das crianças, os números também são preocupantes, com as notificações subindo de 1.850 para impressionantes 24.300. Esse crescimento acentuado de atendimentos está levando a um aumento de internações e, consequentemente, a um aumento significativo de gastos do governo na saúde pública.

Os números elevados de atendimentos têm diversas implicações, não apenas em termos de saúde pública, mas também em relação ao bem-estar psicológico e emocional das futuras gerações. E é crucial entender que, por trás dessas estatísticas, existem vidas e experiências individuais que revelam a complexidade do que significa crescer em um mundo saturado de pressões e estressores.

Mudanças nos Hábitos e o Sedentarismo

Pesquisas e estudos apontam que um dos grandes fatores contribuintes para esse aumento vertiginoso nos transtornos de ansiedade, especialmente entre os jovens, é o sedentarismo crescente. O psicólogo clínico Saulo Maciel sugere que as novas gerações se tornaram significativamente mais sedentárias do que as anteriores, o que gera uma correlação clara entre níveis de atividade física e o sofrimento relacionado à saúde mental.

O exercício é amplamente reconhecido como uma ferramenta eficaz para o manejo da ansiedade. Atividades físicas regulares podem agir como um ansiolítico natural e até mesmo desempenhar um papel protetor contra a depressão. Quando as crianças e os adolescentes não têm a oportunidade de se movimentar e socializar ativamente, a ansiedade tende a emergir como uma resposta a esses déficits de atividade e interação.

Uso Excessivo de Tecnologia

Outra questão crucial é o uso excessivo de tecnologia e dispositivos eletrônicos. O acesso constante a celulares e redes sociais proporciona um conforto imediato, mas também gera uma série de estímulos que mantém os jovens em um estado contínuo de alerta. Os especialistas destacam que este acesso constante ao conteúdo online impede os jovens de experimentarem emoções como tédio ou frustração, que fazem parte da experiência humana.

Essa dificuldade em lidar com momentos de desconforto emocional contribui para a falta de resiliência e a propensão a desenvolver sintomas de ansiedade. Segundo Maciel, “quanto mais tempo de tela, maior a probabilidade do aparecimento de sintomas de ansiedade”. Portanto, o simples ato de colocar o celular de lado e experimentar a vida fora das telas pode ser um passo significativo para o bem-estar mental.

Sintomas de Ansiedade em Crianças e Adolescentes

É importante mencionar que os transtornos de ansiedade na infância e adolescência podem manifestar-se de diversas formas, incluindo sintomas físicos. Muitos jovens não conseguem verbalizar adequadamente suas emoções e isso pode dificultar o diagnóstico correto. Entre os sintomas físicos mais comuns está a dor de cabeça, dor abdominal, e a alteração dos padrões de sono e apetite. Além disso, há sinais emocionais e comportamentais que devem ser observados.

Os jovens que apresentam angústia constante, têm dificuldade em estar longe dos responsáveis, ver mudanças drásticas no desempenho escolar ou simplesmente relutam em participar de atividades que antes eram prazerosas, podem estar sofrendo com um transtorno de ansiedade. O medo sem justificativa e uma preocupação excessiva com a saúde também são sinais que não devem ser ignorados.

O Papel dos Pais e Educadores

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Diante desse cenário alarmante, o papel dos pais e educadores se torna ainda mais vital. É de suma importância que tenham consciência do impacto que atitudes e comportamentos podem ter sobre a saúde mental das crianças. Incentivar atividades físicas e o contato com a natureza é essencial, assim como promover momentos de desconexão digital.

Maciel destaca que a verdadeira mudança começa em casa, onde os pais devem adotar comportamentos que incentivem seus filhos a tolerar o desconforto emocional e aprender a lidar com emoções difíceis de forma saudável. O desafio está, portanto, em educar tanto os jovens quanto os adultos sobre a importância da saúde mental e as ferramentas disponíveis para o gerenciamento do estresse e da ansiedade.

Assistência e Tratamento pelo SUS

Embora o aumento nos atendimentos por transtornos de ansiedade seja preocupante, o Sistema Único de Saúde (SUS) oferece uma rede de suporte que pode ser acessada pelos jovens e suas famílias. O ministério enfatiza que o cuidado começa nas Unidades Básicas de Saúde, que oferecem serviços preventivos e tratamento em diversos níveis de complexidade.

Para casos mais graves, há a Rede de Atenção Psicossocial (RAPS), que inclui Centros de Atenção Psicossocial e serviços de internação. O acompanhamento qualificado e a oferta de medicações adequadas são parte do compromisso do SUS em garantir a saúde mental de todos. Assim, o acesso à saúde mental torna-se não apenas uma discussão sobre números, mas também um assunto que toca a essência de vidas e gerações.

Perguntas Frequentes

Por que o número de atendimentos por ansiedade cresceu tão drasticamente no SUS?
O aumento está associado a diversos fatores, incluindo sedentarismo, uso excessivo de tecnologia e as pressões sociais crescentes que os jovens enfrentam atualmente.

Como posso identificar se meu filho está sofrendo de ansiedade?
Os sinais incluem dores físicas, alterações no sono e apetite, angústia constante e relutância em participar de atividades diárias. É importante observar mudanças significativas no comportamento.

Qual a importância do exercício físico na saúde mental de crianças e adolescentes?
O exercício físico é considerado um fator protetor contra transtornos mentais, atuando como ansiolítico natural e ajudando no controle de sintomas de ansiedade e depressão.

Como os pais podem ajudar a gerenciar a ansiedade dos filhos?
Os pais devem promover atividades físicas regulares, estabelecer limites no uso de tecnologia e ensinar seus filhos a lidar com emoções desconfortáveis de maneira saudável.

O SUS oferece algum tipo de tratamento para jovens com transtornos de ansiedade?
Sim, o SUS disponibiliza assistência integral, incluindo acompanhamento psicológico e psiquiátrico, em unidades básicas de saúde e centros de atenção psicossocial.

Qual é a relação entre o uso de tecnologia e o aumento da ansiedade?
O uso excessivo de tecnologia pode levar os jovens a ter dificuldade em lidar com emoções como o tédio e a frustração, contribuindo para o desenvolvimento de transtornos de ansiedade.

Conclusão

O alarmante aumento nos atendimentos relacionados a transtornos de ansiedade no SUS é um chamado para a ação. É essencial que a sociedade brasileira reconheça os fatores que contribuem para essa crise e promova mudanças na maneira como lidamos com a saúde mental. Fortalecer a comunicação familiar, promover atividades que envolvam movimento físico e dar espaço para que os jovens aprendam a lidar com suas emoções são passos essenciais para mitigar essa crescente preocupação de saúde pública. Em última análise, o convencional caminho de prevenção e tratamento pode ser também um passo significativo na construção de uma geração mais resiliente e saudável.