Cobranças retroativas do SUS pressionam provisões; banco vê efeito limitado

As cobranças retroativas do SUS pressionam provisões; banco vê efeito limitado

O cenário das operadoras de saúde no Brasil, especialmente no que tange à gestão de provisões, vem se tornando cada vez mais complexo e desafiador. Recentemente, as provisões de reembolso ao Sistema Único de Saúde (SUS) da Hapvida (HAPV3) chamaram a atenção dos investidores e analistas do mercado financeiro, principalmente após identificarem que a NDI Saúde, uma de suas subsidiárias no Sudeste, havia deixado de receber Guias de Recolhimento da União (GRUs) desde 2022. Essa situação resultou em subprovisões no balanço da empresa e reacendeu o debate sobre a adequação e a estratégia de provisão de reembolso ao SUS.

Por outro lado, a partir de abril de 2023, houve o retorno das cobranças, incluindo faturas retroativas que abrangem períodos anteriores. Segundo informações do Itaú BBA, a NDI foi cobrada em R$ 164 milhões apenas no segundo trimestre de 2025 (2T25), totalizando R$ 219 milhões para a Hapvida nesse mesmo período. Essa nova realidade financeira forçou a empresa a reconhecê-los como despesa incremental no resultado, o que inevitavelmente impactará seu caixa devido ao aumento dos depósitos judiciais relacionados.

Apesar da complexidade e dos desafios que surgem com essas cobranças retroativas do SUS, o banco Itaú BBA discorre que o impacto é mais relacionado ao “timing regulatório” do que a falhas na metodologia de provisão da empresa. Embora a tendência seja de que trimestres “limpos” são preferíveis para a visibilidade da lucratividade, o efeito retroativo é explicável e apresenta um impacto relativamente limitado na lucratividade normalizada da Hapvida.

O que é a provisão de reembolso ao SUS?

A provisão para eventos de ressarcimento ao SUS (PESL-SUS) deve ser entendida como uma reserva financeira que as operadoras de saúde precisam fazer para cobrir pagamentos ainda não realizados ao SUS por serviços prestados a seus beneficiários. Essa provisão é composta por dois elementos importantes: eventos identificados que ainda não foram faturados e eventos já faturados que necessitam de provisionamento integral.

Vamos entender isso de forma um pouco mais detalhada:

  • Eventos identificados ainda não faturados: Esses eventos são multiplicados pela taxa histórica de cobrança da operadora, que é definida pela Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), o que significa que a operadora considera a média de pagamentos que recebeu nos anos anteriores. Dessa forma, consegue ter uma previsão mais precisa sobre o valor que deverá reservar.

  • Eventos já faturados: Esses devem ser provisionados em sua totalidade, pois já há um compromisso formal com o SUS e não há como escapar desse pagamento.

O cálculo dessas provisões é uma prática essencial na contabilidade das operadoras de saúde, pois assegura que eles estejam financeiramente preparados para atender suas obrigações legais e contratuais.

Qual é o run rate normalizado das provisões?

Para estimar um ritmo recorrente normalizado, o Itaú BBA analisa o volume de eventos identificados (ABIs) divulgados pela ANS. No primeiro trimestre de 2025 (1T25), esses eventos somaram R$ 96 milhões em todas as subsidiárias da Hapvida. Considerando uma taxa histórica de cobrança de 83% — que é a média plurianual da Hapvida Assistência Médica — as provisões ao SUS devem representar aproximadamente 1,1% da receita líquida da empresa daqui para frente.

Esse percentual representa um aumento de apenas 10 pontos-base em relação às estimativas anteriores. A incorporação dessas informações na prévia de resultados atualizada contribui para refletir com mais precisão o ajuste do 2T25, enquanto as projeções de receita, sinistralidade e EBITDA recorrente permanecem inalteradas. Assim, o Itaú BBA sugere um run rate de provisão de 1,1%, sem grandes impactos nas margens de longo prazo.

Aceleração do crescimento

De acordo com o BTG Pactual, mesmo em meio a um ambiente de concorrência acirrada e a pressão das cobranças do SUS, a Hapvida projeta uma aceleração do crescimento a partir do segundo semestre de 2025. O foco da empresa está em expandir a base de beneficiários e fortalecer suas iniciativas comerciais. Essa visão otimista é apoiada por uma série de medidas que a companhia está implementando.

No curto prazo, a avaliação é que o segundo trimestre será pressionado pela sazonalidade elevada na sinistralidade e pelo aumento nas provisões, mas a administração está compreendendo esses desafios como parte de um ciclo mais amplo de crescimento. Após um primeiro semestre mais fraco, em parte devido à integração de sistemas, a Hapvida busca novamente o crescimento orgânico, implementando ajustes operacionais, incentivando corretores, simplificando seu portfólio de produtos e ampliando sua infraestrutura, como a entrega do hospital Anália Franco e um novo centro de diagnósticos em São Paulo.

Essas estratégias visam aumentar a eficiência operacional e a satisfação do cliente, aspectos essenciais para conquistar novos beneficiários e reter aqueles existentes.

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Cobranças retroativas do SUS pressionam provisões; banco vê efeito limitado

O retorno das cobranças retroativas do SUS não é apenas um simples evento administrativo; é um fator significativo que pode pressionar as provisões das operadoras de saúde. A Hapvida, assim como outras empresas do setor, deve lidar com a realidade de que as obrigações financeiras com o SUS podem não apenas impactar suas reservas, mas também suas projeções de lucro e fluxo de caixa.

No entanto, conforme observado por analistas financeiros, o efeito dessas cobranças retroativas é considerado limitado. O Itaú BBA, por exemplo, argumenta que esta questão se trata mais de um “timing regulatório” do que de um erro na metodologia de provisão. Isso implica que, embora os impactos em despesas e provisões sejam notáveis, a saúde financeira da empresa pode se manter relativamente intacta em termos de sua capacidade de operação e crescimento a longo prazo.

Esse entendimento é essencial para os investidores que buscam avaliar a viabilidade e a sustentabilidade do investimento na Hapvida. A análise cuidadosa dessas dinâmicas financeiras, incluindo as provisões e as consequentes cobranças retroativas, pode oferecer uma imagem mais clara do potencial da empresa para se adaptar e prosperar em um ambiente regulatório desafiador.

Perguntas Frequentes

O que são as provisões de reembolso ao SUS?
As provisões de reembolso ao SUS são reservas financeiras que as operadoras de saúde devem fazer para cobrir pagamentos futuros ao Sistema Único de Saúde por serviços prestados a seus beneficiários.

Como as cobranças retroativas do SUS afetam as provisões?
As cobranças retroativas do SUS pressionam as provisões, obrigando as operadoras a reconhecer as despesas relacionadas e ajustá-las em seus balanços financeiros.

Por que o Itaú BBA considera o efeito das cobranças retroativas limitado?
O Itaú BBA argumenta que o impacto é mais sobre o “timing regulatório” do que um erro nas metodologias de provisão, sugerindo um efeito controlável nas operações da empresa.

Qual é a importância de entender o run rate normalizado das provisões?
Compreender o run rate normalizado ajuda a prever as necessidades financeiras futuras das operadoras e a garantir sua viabilidade a longo prazo.

Como a Hapvida está se preparando para o crescimento futuro?
A Hapvida está focando na expansão da base de beneficiários, implementação de ajustes operacionais e fortalecimento de sua infraestrutura para suportar o crescimento.

Qual é a perspectiva de investimento nas ações da Hapvida?
Atualmente, o Itaú BBA mantém a recomendação de compra para as ações da Hapvida, embora o desempenho dependa da continuidade do crescimento e mitigação dos riscos jurídicos.

Conclusão

A dinâmica das cobranças retroativas do SUS e as provisões das operadoras de saúde ilustram como fatores regulatórios podem impactar o setor. A Hapvida, em particular, enfrenta um momento desafiador, mas com uma gestão cuidadosa e propostas de crescimento, mantém-se esperançosa quanto ao seu futuro.

As análises de bancos como Itaú BBA e BTG Pactual destacam que, apesar dos desafios, as fundações financeiras da empresa permanecem robustas. A compreensão dessas complexidades é fundamental para investidores e operadores de mercado, que devem estar preparados para um cenário em constante mudança.

Referências

  • Itaú BBA
  • BTG Pactual
  • Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS)