A cirurgia de catarata e suas desigualdades no Brasil
A catarata é um dos principais problemas de visão enfrentados por milhões de pessoas em todo o mundo. Em muitos casos, ela representa a principal causa de cegueira evitável. A boa notícia é que a cirurgia é um procedimento eficaz para tratar essa condição, oferecendo a oportunidade de restaurar a visão. Contudo, um estudo da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP) trouxe à tona dados preocupantes sobre a desigualdade no acesso a esse tipo de cirurgia no Brasil. A pesquisa revelou que os planos de saúde realizam 73% mais cirurgias de catarata do que o Sistema Único de Saúde (SUS). Nesse artigo, abordaremos as razões para essa disparidade e suas consequências, além de discutir a urgência de políticas públicas que possam sanar esse problema.
O que é a catarata?
A catarata é uma opacidade que se forma no cristalino do olho, dificultando a passagem da luz e, consequentemente, prejudicando a visão. A condição é comum entre pessoas idosas, mas pode afetar indivíduos de todas as idades. Os principais sintomas incluem visão turva, dificuldade para enxergar à noite, sensibilidade ao brilho e a percepção de halos ao redor de luzes.
A cirurgia de catarata consiste na remoção do cristalino opaco e na substituição por uma lente intraocular, que pode corrigir a visão. Trata-se de um dos procedimentos cirúrgicos mais realizados no Brasil e no mundo. Em 2024, por exemplo, foram realizadas cerca de 1,8 milhão de cirurgias de catarata, com o SUS respondendo por 64% desse total. Isso, no entanto, não conta a história completa, como veremos a seguir.
A disparidade no acesso à cirurgia de catarata
Conforme mencionado, os planos de saúde realizam, em média, 73,4% mais cirurgias de catarata do que o SUS a cada 100 mil habitantes. Essa desigualdade no acesso se torna ainda mais gritante quando analisamos as regiões do Brasil. No Norte, os planos de saúde realizaram 157% mais procedimentos do que a rede pública; no Sul, a diferença foi de 138%. Mesmo no Sudeste, onde as condições são relativamente melhores, a discrepância existe: os convênios médicos ainda realizaram 39% mais cirurgias que a rede pública.
Por que essa desigualdade é importante? O acesso limitado à cirurgia de catarata pode resultar em graves consequências para a qualidade de vida das pessoas. A catarata não tratada pode levar a uma progressiva incapacidade visual, dificultando atividades cotidianas, afetando a mobilidade e causando isolamento social.
A concentração de oftalmologistas e sua relação com a cirurgia de catarata
Outro aspecto a ser considerado é a distribuição desigual de oftalmologistas no Brasil. Em 2024, o país contava com 16.784 especialistas, uma média de 8,96 por 100 mil habitantes, com variações significativas entre os estados. O Distrito Federal, por exemplo, possui uma taxa de 19,18 oftalmologistas por 100 mil habitantes, enquanto a situação é crítica em regiões como o Amazonas, com apenas 3,60. Essa concentração de profissionais em áreas urbanas torna ainda mais desafiador o acesso à cirurgia de catarata para aqueles que residem em locais mais afastados.
Além disso, o estudo da FMUSP revelou que a média de cirurgias de catarata realizadas por oftalmologistas varia consideravelmente entre os estados. Em Piauí, cada especialista fez cerca de 180,38 procedimentos por ano, enquanto no Distrito Federal, esse número caiu para apenas 21,54. Essa variação não reflete necessariamente a demanda, mas pode indicar um subaproveitamento da força de trabalho em determinadas regiões.
Urgência de políticas públicas
Dados do Ministério da Saúde mostram que a cirurgia de catarata com implante de lente intraocular liderou as filas de espera no SUS em 2024, com mais de 168 mil solicitações. Essa situação é alarmante e inaceitável, uma vez que a cirurgia é uma solução que pode ser implementada rapidamente. O estudo da FMUSP, coordenado pelo Prof. Dr. Mário Scheffer, destaca a necessidade de ações imediatas para resolver essas desigualdades.
Entre as sugestões estão: a coordenação de iniciativas e recursos entre as esferas governamentais, o aproveitamento da capacidade da rede privada para a realização de cirurgias pelo SUS, e a padronização de práticas e preços, o que poderia ampliar o acesso à tratamento.
Planos de saúde realizam 73% mais cirurgias de catarata que o SUS, aponta estudo da FMUSP
É inegável que os dados traçados pelo estudo da FMUSP revelam uma imagem preocupante sobre o acesso à saúde no Brasil. A diferença de 73% nas cirurgias realizadas por planos de saúde em comparação ao SUS coloca em evidência a necessidade de um debate mais profundo sobre como garantir que todos os cidadãos tenham acesso às cirurgias de catarata, independentemente de seu contexto socioeconômico.
Reconhecer essa disparidade é o primeiro passo para a transformação. Para que as políticas de saúde sejam efetivas, é essencial que as vozes dos cidadãos sejam ouvidas, e suas necessidades, atendidas. Investimentos na formação e distribuição de oftalmologistas em regiões mais necessitadas, bem como um maior intercâmbio entre a rede pública e privada, podem ser medidas eficazes.
Regularização da oferta de cirurgias de catarata: desafios e oportunidades
Compreender a situação da cirurgia de catarata no Brasil, além das questões de acesso, é fundamental para que possamos vislumbrar um futuro mais equitativo em termos de saúde. A desigualdade no acesso pode ser abordada através da ação conjunta entre várias instâncias do governo, profissionais de saúde e a sociedade civil. Aqui estão alguns dos desafios que devem ser enfrentados:
- Capacitação e distribuição de oftalmologistas: A formação contínua de novos oftalmologistas deve ser garantida, com incentivos para que esses profissionais atuem em regiões menos favorecidas.
- Integração com a rede privada: A colaboração entre o SUS e os planos de saúde pode aliviar a pressão sobre o sistema público, além de oferecer mais opções para os cidadãos.
- Aumento de conscientização: Campanhas educativas sobre catarata podem ajudar a desmistificar a condição e incentivar a procura por tratamento.
FAQs
O que é catarata?
Catarata é a opacidade do cristalino do olho, que prejudica a visão. É uma condição comum, especialmente em idosos, e pode ser tratada através de cirurgia.
Quais são os sintomas da catarata?
Os principais sintomas incluem visão turva, dificuldade para enxergar à noite, sensibilidade ao brilho e a percepção de halos ao redor de luzes.
Como é realizada a cirurgia de catarata?
Na cirurgia, o cristalino opaco é removido e substituído por uma lente intraocular, que pode ajudar a corrigir a visão.
Por que há desigualdade no acesso à cirurgia de catarata no Brasil?
A desigualdade deve-se à diferença no número de cirurgias realizadas pelo SUS e pelos planos de saúde, além da desigual distribuição de oftalmologistas.
Quais as consequências da demora no tratamento da catarata?
A demora no tratamento pode levar à perda progressiva da visão, dificultando atividades cotidianas e afetando a qualidade de vida.
O que pode ser feito para melhorar o acesso à cirurgia de catarata?
Medidas como a coordenação de esforços entre o SUS e a rede privada, capacitação de oftalmologistas e campanhas de conscientização podem ser eficazes.
Considerações finais
É inegável que a cirurgia de catarata representa uma luz no fim do túnel para muitos que sofrem com essa condição. No entanto, o estudo da FMUSP nos lembra que, apesar das inovações e da eficácia do procedimento, ainda há um longo caminho a ser percorrido para garantir que o acesso à saúde seja igualitário em nosso país. No Brasil, onde a saúde é um direito de todos, é crucial que lutemos por políticas públicas que eliminem as desigualdades e proporcionem o tratamento que cada cidadão merece. A transformação desse cenário está em nossas mãos, e a busca por soluções justas e eficazes deve ser uma prioridade.

Olá, meu nome é Gabriel, editor do site ConecteSUS.org, focado 100%. Olá, meu nome é Gabriel, editor do site ConecteSUS.org, focado 100%

