Tadeu de Souza | Um SUS de voadeira, avião e fibra ótica

A saúde é um tema central nas discussões que envolvem a vida dos amazonenses, manifestando-se como uma urgência constante nas conversas cotidianas. Quando se pensa na vastidão da Amazônia, logo se percebe que a complexidade do vosso sistema de saúde público demanda um enfoque que seja não apenas adequado, mas também profundamente enraizado nas peculiaridades locais. As dificuldades enfrentadas por quem vive em comunidades ribeirinhas, como as longas esperas por atendimentos e a precariedade no acesso a exames e serviços médicos, são retratos de uma realidade que clama por mudança.

Muitos veem os desafios enfrentados por essa região como resultado de um modelo de saúde que foi concebido com uma perspectiva centralizadora, incapaz de abarcar a real diversidade de necessidades das populações ribeirinhas e indígenas. A proposta de criar um Sistema Único de Saúde (SUS) que realmente reflita as características da Amazônia é discutido, com um enfoque necessário na descentralização dos serviços. A presença de polos regionais que incorporem os cuidados médicos necessários é fundamental para que a saúde pública na região se torne viável e acessível a todos.

Uma lógica centralizadora não pode mais ser tolerada. O atual modelo não só é ineficiente, como também desumaniza o atendimento, obrigando milhares de pessoas a se deslocarem para a capital, Manaus, em busca de um simples exame. A carga dos deslocamentos para a capital é um fardo pesado, que muitos não suportam. Para que a saúde se torne verdadeiramente universal na Amazônia, é necessário investir nos centros locais, com hospitais que realizem cirurgias, exames de imagem e atendimentos de urgência.

A logística de transporte sanitário se revela como uma questão essencial nesse processo. O acesso aos serviços de saúde não pode ser jogado às traças apenas porque a infraestrutura de transporte não está adequada. A criação de uma rede própria de transporte que compreenda aviões, barcos e equipes capacitadas é uma prioridade. Isso não deve se basear em convênios pontuais, mas em um financiamento contínuo e estruturado que garanta a sustentabilidade do sistema de saúde.

As disparidades também se fazem notórias na oferta de profissionais de saúde. Enquanto grandes capitais como São Paulo possuem uma média de 6 médicos para cada mil habitantes, essa média no interior do Amazonas é extremamente baixa, com apenas 0,2 médicos para cada mil. Os profissionais, muitas vezes, vêm apenas para cumprir contratos temporários e se vão, rompendo vínculos, desorganizando equipes e enfraquecendo a atenção primária. Um SUS que se propõe a ser efetivo em um contexto tão diverso precisa ter como premissa a fixação desses profissionais no interior, através de incentivos e condições dignas de trabalho.

Tadeu de Souza | Um SUS de voadeira, avião e fibra ótica

As necessidades da população amazônica exigem uma resposta que considere não apenas o fator humano, mas também a conectividade. A telessaúde, por exemplo, é uma ferramenta poderosa para enfrentar as dificuldades de acesso, mas precisa ser acompanhada de uma infraestrutura que garanta a interação entre pacientes e profissionais de saúde através da internet. A modernização do sistema de saúde passa pela digitalização e pela adoção de prontuários eletrônicos, viabilizando laudos a distância e diagnósticos remotos.

No entanto, para que isso ocorra de maneira eficiente, é importante acelerar o programa das infovias, focando especialmente nas unidades básicas de saúde. O acesso à tecnologia deve ser visto como uma extensão dos direitos da população, promovendo equidade no atendimento.

Além disso, a singulares condições geográficas e sociais da Amazônia demandam políticas específicas para diversas populações, incluindo ribeirinhos e indígenas, que possuem perfis epidemiológicos únicos. É inaceitável que um SUS que se diz universal trate as populações da Amazônia como exceção. A atenção às particularidades locais deve ser uma constante, e isso implica reconhecer que a saúde na Amazônia não só custa mais, mas exige um tempo diferente para atender suas especificidades.

Desafios do Sistema de Saúde

Seria inconcebível não reconhecer que a transformação do sistema de saúde requer a convergência dos esforços federais e locais. O financiamento em média e alta complexidade ainda depende fortemente da União, destacando a necessidade de uma pactuação robusta e corajosa entre os entes federados.

Tao-logo, a valorização da carreira médica e a melhoria no acesso aos serviços de saúde não são apenas mensagens retóricas, mas sim compromissos que precisam ser convertidos em ações. O governo federal deve entender que a floresta também é Brasil e que, por isso, todas as suas nuances e desafios devem ser integrados em uma política de saúde que valorize o ser humano, fortalecendo o sistema como um todo.

Este movimento é mais do que uma demanda; é um ato de justiça. O povo do Amazonas, que demonstrou uma resiliência sem igual, agora chega ao seu limite. O desejo por mudanças concretas e eficazes é palpável, e quem ocupa cargos de relevância não pode ignorar essa realidade que, em muitos contextos, estaria em emergência.

Perguntas Frequentes

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Qual é a principal urgência em relação à saúde no Amazonas?

A principal urgência é a dificuldade de acesso a serviços médicos e a necessidade de um modelo de saúde que considere as especificidades da região.

Como a descentralização pode ajudar a melhorar os atendimentos em saúde?

A descentralização pode criar polos regionais bem estruturados, reduzindo a necessidade de deslocamentos para a capital para tratamentos e exames, o que é crucial considerando a vastidão territorial da Amazônia.

Qual o papel do transporte sanitário no sistema de saúde da Amazônia?

Transporte sanitário é fundamental, pois muitas vezes é a única forma de garantir que pacientes, especialmente em estado crítico, cheguem aos centros de atendimento a tempo.

Quais são os principais desafios para fixar profissionais de saúde no interior do Amazonas?

Os principais desafios incluem a falta de infraestrutura adequada, condições de trabalho dignas e a necessidade de incentivos que valorizem esses profissionais.

Como a telessaúde pode ser uma solução viável para a saúde na Amazônia?

Telessaúde pode facilitar o acesso a consultas e diagnósticos, mesmo em áreas remotas, desde que haja infraestrutura de internet e tecnologia adequada.

Qual a importância do governo federal nas transformações do SUS na Amazônia?

O governo federal desempenha um papel crucial no financiamento e na organização do sistema de saúde, e sua presença é imprescindível para garantir a eficácia e a sustentabilidade das mudanças necessárias.

Conclusão

A saúde pública na Amazônia deve ser um reflexo não apenas das necessidades, mas também das particularidades de sua população. O SUS deve ser repensado e adaptado para uma realidade tão rica, mas também tão desafiadora. O compromisso com a criação de um sistema de saúde verdadeiramente justo e capaz de responder aos anseios da população é uma tarefa que exige resistência, colaboração e visão de futuro. Portanto, que possamos avançar na construção desse SUS de voadeira, avião e fibra ótica, onde a esperança e a saúde estejam sempre ao alcance de todos.