SUS troca papanicolau por teste de DNA para detectar HPV

O exame citopatológico Papanicolau, amplamente utilizado para a detecção precoce do câncer de colo de útero, está prestes a passar por importantes mudanças no Sistema Único de Saúde (SUS). A partir de abril de 2025, esse exame será substituído pelo teste molecular RT-PCR, que oferece uma análise mais precisa através do DNA. Essa alteração na abordagem de rastreamento do papilomavírus humano (HPV), principal responsável pelo câncer cervical, promete revolucionar a maneira como as mulheres são monitoradas e tratadas em relação a essa condição.

O início dessa transição será em Pernambuco, onde cerca de 435 mil mulheres devem ser beneficiadas ao longo de um ano. A iniciativa não se limita a esse estado; Minas Gerais também expressou interesse em adotar essa nova tecnologia. De acordo com o Ministério da Saúde, o plano é expandir o uso do teste molecular por todo o país durante os anos de 2025 e 2026, período que incluirá treinamentos e capacitações das equipes de saúde envolvidas. Essa mudança visa não apenas melhorar os índices de detecção precoce, mas também aperfeiçoar o tratamento e o seguimento das pacientes.

O novo teste, desenvolvido pelo Instituto de Biologia Molecular do Paraná (IBMP), é um avanço significativo, pois pode detectar até 14 genótipos do HPV que estão associados a câncer. Com uma sensibilidade de 97% para esses subtipos, o teste molecular representa uma grande melhoria em relação ao Papanicolau, que, muitas vezes, só consegue identificar lesões já preexistentes e depende de uma análise mais subjetiva.

Um ponto interessante a se considerar é o intervalo entre os testes. Com a nova metodologia, as mulheres poderão realizar a triagem a cada cinco anos, em vez de apenas a cada três, como acontece atualmente. Essa mudança não só reduz o número de coletas necessárias ao longo da vida da paciente, como também ajudará a economizar recursos a longo prazo. De acordo com estudos, essa nova abordagem pode diagnosticar o HPV cancerígeno até uma década antes do desenvolvimento da doença, permitindo intervenções mais precoces e menos invasivas.

O novo teste não está apenas disponível no SUS, mas também já foi implementado em outras instituições de saúde, como o Iamspe, que atende servidores públicos em São Paulo. Isso evidencia um movimento crescente em direção a métodos de rastreamento mais eficazes.

Vantagens do exame de DNA

A abordagem baseada em DNA traz uma série de vantagens em comparação ao método tradicional de Papanicolau. Além do intervalo maior entre coletas, o teste molecular é menos suscetível a falsos negativos e positivos, um problema comum no exame citopatológico, que depende do visualizador para interpretar as células coletadas. O Papanicolau é eficaz, mas seu funcionamento é limitado uma vez que pode apenas indicar alterações morfológicas, enquanto o RT-PCR permite que se verifique diretamente a presença do DNA viral.

Luísa Lina Villa, uma respeitada especialista em oncologia, destaca que o teste molecular é uma tendência em todo o mundo e que o foco na presença do vírus pode ser mais eficaz do que a análise de células já afetadas. Com essa mudança, é possível não apenas detectar a doença em estágios iniciais, mas também possibilitar um tratamento mais eficaz e menos oneroso.

Um estudo feito pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) fornece evidências adicionais de que essa nova tecnologia pode ser a chave para uma detecção mais precoce e eficaz do HPV. A pesquisa aponta que a tecnologia molecular poderá reduzir significativamente a incidência de câncer de colo do útero ao facilitar o diagnóstico antes que a doença se desenvolva, o que, em última análise, pode salvar vidas e diminuir os custos dos tratamentos.

Desafios para a implementação no Brasil

No entanto, apesar das inúmeras vantagens, a implementação do teste molecular RT-PCR enfrenta alguns desafios significativos no Brasil. O Conselho Federal de Medicina (CFM) expressou preocupações sobre a viabilidade e a segurança da transição do Papanicolau para o teste molecular, especialmente em um país de dimensões continentais como o Brasil. A realidade de desigualdades regionais e limitações no acesso a serviços de saúde pública são preocupações que não podem ser ignoradas.

O médico Ademar Augusto reforça a importância de se considerar esses desafios logísticos, já que a coleta de amostras para o Papanicolau já apresenta dificuldades em diversas regiões. A concordância entre o uso dos dois métodos poderia trazer mais segurança e perspectivas mais amplas para o diagnóstico e tratamento do HPV.

A formação adequada das equipes de saúde e a estruturação da rede de atendimento são fundamentais para que a implementação do novo método seja efetiva. É crucial que haja um planejamento sólido para que todos os envolvidos no processo tenham total compreensão de como realizar o novo teste e acompanhar o tratamento das pacientes de forma eficaz.

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Cuide-se

A proposta de uma nova abordagem no rastreamento do HPV está inserida em um contexto mais amplo de políticas públicas de saúde. O Ministério da Saúde, que já introduziu a vacina contra o HPV na rede pública, tem como um dos seus objetivos eliminar o câncer de colo do útero até 2030, alinhando-se assim a uma meta global estipulada pela Organização Mundial da Saúde (OMS). Ao integrar a vacinação e o teste molecular, o governo brasileiro procura construir uma estratégia eficaz e abrangente para a saúde das mulheres.

Embora a vacina esteja disponível, é fundamental que as mulheres tenham consciência da importância de realizarem os testes regulares, mesmo após a vacinação. É importante ressaltar que a presença do vírus HPV não significa que a pessoa terá câncer, mas representa um risco significativo para o desenvolvimento de neoplasias.

Essa nova fase, impulsionada pela substituição do Papanicolau pelo teste de DNA, significa um passo importante para o avanço da saúde pública no Brasil. A expectativa é que com a maior acurácia do teste molecional, os índices de câncer de colo do útero no país estejam mais controlados, especialmente em um cenário de saúde onde o acesso à informação e à tecnologia são vitais para melhorar a vida das pessoas.

Perguntas Frequentes

Qual a principal diferença entre o Papanicolau e o novo teste molecular?
O Papanicolau analisa células já alteradas, enquanto o teste molecular RT-PCR detecta diretamente a presença do DNA do HPV, tornando-o mais eficaz na detecção precoce.

O teste molecular é seguro?
Sim, o teste molecular é considerado seguro e tem uma sensibilidade de 97% na detecção dos subtipos de HPV que podem causar câncer.

Se já tomei a vacina contra o HPV, ainda preciso fazer o teste?
Sim, mesmo após a vacinação, é importante realizar o teste, pois a vacina não protege contra todos os tipos de HPV que podem causar câncer.

Quando eu devo fazer o teste de HPV?
O novo protocolo sugere que mulheres entre 25 e 49 anos façam o teste a cada cinco anos.

O que acontece se eu testar positivo para HPV?
Um resultado positivo indicará a presença do vírus, o que exigirá um acompanhamento mais próximo e, possivelmente, um tratamento, dependendo da situação clínica.

Haverá custo para realizar o teste no SUS?
O teste será disponibilizado gratuitamente pelo Sistema Único de Saúde, uma vez que a implementação começar oficialmente.

Conclusão

A substituição do exame Papanicolau pelo teste molecular RT-PCR no SUS representa uma revolução na detecção e tratamento do HPV, trazendo esperanças de um futuro mais saudável para milhões de mulheres no Brasil. Ao permitir um diagnóstico mais preciso e em estágio ainda mais inicial, essa inovação pode reduzir significativamente os índices de câncer de colo do útero no país. O comprometimento do governo em implementar essa nova tecnologia, aliado ao investimento em educação e inclusão, promete transformar a forma como a saúde da mulher é tratada no Brasil.