Novo plano de saúde pode prejudicar trabalhador, diz MPF

O recente debate sobre um novo modelo de plano de saúde no Brasil gerou preocupações significativas entre especialistas e órgãos reguladores. O Ministério Público Federal (MPF), por meio de sua Comissão de Saúde da Câmara do Consumidor e da Ordem Econômica, expressou críticas à proposta da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS). O foco principal é se essa nova modalidade realmente beneficiará os trabalhadores ou se, ao contrário, poderá prejudicá-los, uma preocupação que merece atenção.

O novo plano de saúde, que já foi apresentado como uma solução para ampliar o acesso à saúde no país, propõe uma cobertura restrita, limitando-se a consultas eletivas e exames, enquanto exclui atendimentos de urgência, internações e terapias. Essa proposta levanta questões sobre a real eficácia desse modelo e os impactos que poderá ter sobre aqueles que já dependem do Sistema Único de Saúde (SUS).

Novo plano de saúde pode prejudicar trabalhador, diz MPF – 07/05/2025 – Mercado

O MPF tem sido claro em suas afirmações: a proposta de novos planos de saúde pode levar à migração de usuários de planos tradicionais para opções com cobertura mais limitada. Isso poderia resultar em uma sobrecarga do SUS, uma vez que, em caso de atendimentos mais complexos, essas pessoas se veriam obrigadas a recorrer ao sistema público, que já enfrenta desafios significativos em sua capacidade de atendimento.

Esse cenário é alarmante. O objetivo da ANS de oferecer planos de saúde com preços inferiores a R$ 100, visando ostensivamente ampliar o acesso à saúde, pode ter um efeito colateral indesejado. A falta de um estudo abrangente que quantifique o impacto dessa nova modalidade em relação aos planos existentes é um dos pontos mais criticados pelo MPF. Sem esses dados, não é possível mensurar adequadamente as consequências de uma mudança tão significativa.

Além disso, a ausência de uma Análise de Impacto Regulatório compromete a proteção dos direitos dos consumidores, além de flexibilizar regras relacionadas a temas sensíveis como reajustes de mensalidades e coparticipação. Assim, a dúvida persiste: em última análise, quem realmente se beneficia desse novo modelo?

Como o novo plano de saúde deve funcionar?

A proposta sugere que os novos planos serão oferecidos a preços acessíveis, mas com limitações marcantes em termos de cobertura. Como especificado, esses planos não contemplarão atendimentos de urgência e internações, deixando os consumidores expostos a situações críticas onde o SUS será sua única alternativa. Essa dependência do sistema público, que já se encontra sobrecarregado, pode levar a um aumento nas filas e no tempo de espera para atendimento.

Essa nova modalidade passará por um período experimental de dois anos. Durante esse tempo, a ANS deverá monitorar de perto os efeitos dessa mudança, mas as incertezas sobre a continuidade ou não desse modelo após a experimentação são preocupantes. O risco é que, ao final do período, muitos trabalhadores que optaram por essas coberturas limitadas sejam pegos de surpresa, sem alternativas viáveis para cuidar da saúde de forma efetiva.

Um dos aspectos mais controversos é que a ANS não prevê um limite no reajuste dos preços dos novos planos, algo que poderia facilitar o acesso agora, mas tornar-se um problema no futuro à medida que os preços se tornarem inviáveis para uma parcela significativa da população.

Falta de estudos e avaliações adequadas

O MPF argumenta que a proposta da ANS carece de uma análise robusta que explore de forma abrangente as consequências do novo modelo. O impacto sobre o SUS e a saúde dos brasileiros precisa ser estudado com rigor. Se não houver dados adequados sobre como essa mudança afetará o mercado de saúde e a migração de usuários entre os diferentes planos, é difícil afirmar que o novo modelo proporcionará um avanço real na saúde pública.

A falta de um estudo estruturado que mapeie os riscos pode comprometer a saúde de milhões de brasileiros. Além disso, um modelo que já apresenta falhas nas discussões de criação pode criar um cenário em que a qualidade do atendimento em todo o sistema de saúde seja rebaixada.

Pode-se até dizer que a curto-prazismo no planejamento de saúde tem sido uma constante no Brasil. A diferença agora é que estamos lidando com a saúde das pessoas, um tema sensível que não pode ser tratado de forma superficial.

E o SUS?

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O SUS, como um sistema que visa garantir o atendimento universal à saúde, será diretamente afetado pela criação desses novos planos. O MPF observa que as discussões envolvendo a nova modalidade de plano de saúde foram feitas sem a participação adequada de representantes do Ministério da Saúde. Essa falta de inclusão é um ponto crítico, já que a proposta deve beneficiar uma quantidade significativa de brasileiros, mas pode, ao mesmo tempo, desrealizar as intenções que fundamentaram o SUS.

Uma abordagem alinhada com o SUS não poderia apenas aumentar o número de pessoas atendidas em termos de consultas e exames, mas também garantir uma continuidade no cuidado e no seguimento dos pacientes, evitando que eles tenham que transitar entre o setor privado e o público, o que, por sua vez, poderia levar ao surgimento de novas filas e à sobrecarga do sistema público.

Novo plano de saúde pode prejudicar trabalhador, diz MPF – 07/05/2025 – Mercado

Portanto, fica a questão: como esse novo modelo de plano de saúde irá se integrar ao sistema já existente de saúde pública? Essa nova modalidade pode oferecer soluções rápidas, mas a longo prazo, a falta de uma coordenação adequada pode resultar em descontinuidades nos cuidados que serão prejudiciais para os trabalhadores.

Perguntas Frequentes

Qual é o objetivo do novo plano de saúde proposto pela ANS?
O objetivo é ampliar o acesso à saúde no Brasil, oferecendo planos com coberturas limitadas, como consultas e exames, a preços mais acessíveis.

Como o novo plano pode afetar quem já possui um plano de saúde tradicional?
O MPF alerta que a migração de usuários para planos mais baratos pode sobrecarregar o SUS, pois muitos não terão coberturas suficientes para situações de saúde complexas.

Qual é a duração do período experimental da nova modalidade de plano de saúde?
A proposta prevê um período experimental de dois anos, durante os quais a ANS analisará os impactos do novo modelo.

O que diz o MPF sobre a falta de estudos?
O MPF critica a ausência de uma Análise de Impacto Regulatório e destaca que, sem dados adequados, não é possível mensurar as consequências da proposta.

Como o novo plano pode afetar a qualidade dos serviços de saúde?
A introdução de planos de saúde com cobertura limitada pode levar ao rebaixamento da qualidade geral do sistema de saúde, segundo as ponderações do MPF.

O que deve ser feito para melhorar a proposta?
O MPF sugere que a ANS elabore um regramento distinto e provisório que considere a proteção dos direitos dos consumidores e a adequada regulamentação do novo modelo.

Conclusão

O novo plano de saúde proposto pela ANS certamente traz à tona um mar de perguntas e incertezas. Se, por um lado, promete democratizar o acesso à saúde no Brasil, por outro, as críticas do MPF revelam um cenário preocupante. A falta de estudos adequados, a curta visão sobre o impacto no SUS e as limitações de cobertura podem levar a um círculos vicioso de dependência do sistema público para assuntos que deveriam ser tratados no setor privado.

Os trabalhadores, que são a principal preocupação nesse contexto, merecem garantias de uma assistência à saúde que seja robusta e acessível, sem a necessidade de alternativas precárias que mina suas possibilidades de um atendimento de qualidade. A responsabilidade de garantir isso não recai apenas sobre os consumidores, mas também sobre os reguladores que precisam ouvir as inquietações da sociedade civil e dos especialistas para construir um sistema de saúde que seja verdadeiramente eficaz para todos.